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André Luiz Lopes dos Santos fala sobre os problemas do setor de saúde suplementar


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HISTÓRIA
João Pedro Matta


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Edição 204 - 08/2004

HISTÓRIA

João Pedro Matta


Médico de 90 anos conta que atendeu artistas do Folies Bergère e Vicente Celestino

O médico João Pedro Matta cumpre uma rotina incomum para seus 90 anos. De segunda à sexta-feira deixa a residência no bairro do Ipiranga e toma um ônibus rumo ao centro da capital paulista para chegar ao consultório, onde permanece das 17 às 19 horas a espera de pacientes. O Fusca amarelo que comprou na década de 70 fica na garagem da casa, já que nos últimos tempos ele  dirige “apenas pelo bairro, para fazer algumas compras ou ir à padaria”. 

O consultório “sui generis” – como ele próprio classifica – é constituído por duas salas pequenas repletas de cartazes, fotos, diplomas e objetos que “ganhou de amigos” ao longo da vida. Nos cartazes relacionados com a Medicina, as campanhas de prevenção à Aids estão por todos os lados.

Numa pequena e velha árvore de Natal sobre a mesa da primeira sala, o Dr. Matta pendura credenciais de identificação dos congressos médicos que participou. Fez questão de mostrar à reportagem os mais recentes, do ano 2.000 para frente, como provas do quanto está ativo. Entre os diplomas, um ocupa lugar privilegiado: o de membro de honra do Sindicato dos Atores Teatrais. Ele conta que atendia seus associados, além de ter sido médico “oficial” do Teatro Maria De La Costa e de prestar serviço voluntário a pacientes da Casa do Ator.  Diz que gostava da vida noturna e de circular no meio artístico.

Entre os pacientes famosos, destaca Vicente Celestino e esposa, a atriz e cantora Gilda de Abreu. Segundo o Dr. Matta, o casal residente no Rio de Janeiro, recorria a seus serviços médicos durante as temporadas de trabalho em São Paulo. Na primeira sala da casa onde mora, no Ipiranga, expõe fotos autografadas do casal. Junto às fotos, uma carta de agradecimento pelos serviços do “Dr. Matta”, com a assinatura: “Gilda e Vicente”. Quando o Folies Bergère de Paris veio para uma temporada de shows no Teatro Santana em São Paulo, em 1954, o médico foi contratado para atender ao grupo. Desse período, guarda fotos das vedetes “maravilhosas” e uma carta de agradecimento.   

Nunca se casou, mas teve uma “convivência de 25 anos” com uma mulher “mais jovem” que ele. “Eu em minha casa e ela na dela. Tínhamos uma convivência quando viajávamos juntos”.  Separaram-se porque “ela teve de mudar-se para o Interior para cuidar da mãe”. Em seu consultório estampa uma grande foto e uma tela da ex-companheira. Conheceu a jovem da foto quando ela trabalhava para seu irmão, que era advogado. “Era uma mulher maravilhosa que nunca estudou, mas tornou-se uma advogada na prática e deixava os juízes impressionados”, garante.

João Pedro Matta nasceu em 1914 na cidade de Amparo, no Interior do Estado. Os pais, imigrantes libaneses que se dedicavam ao comércio, tiveram mais sete filhos. Ainda jovem, ele deixou o Interior e seguiu para o Rio de Janeiro para estudar Medicina. Trabalhou no Hospital Central da Marinha para sustentar o curso e a vida. Formou-se em 1939 pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio Janeiro. Algum tempo depois, instalou-se em São Paulo, abrindo seu primeiro consultório no Edifício Mappin, no centro. Também trabalhou, durante 30 anos, no Departamento Médico da Secretaria da Saúde do Estado, no setor de Consulta e Aposentadoria, na rua Maria Paula. Desse emprego está aposentado há mais de 20 anos.

No início da carreira, “procurava acompanhar os passos de grandes mestres da Medicina” do passado. Entre eles cita o Serviço de Gastroenterologia de Levy Sodré e o de Clínica Médica de Celestino Bourroul na Santa Casa. Conta também que trabalhou no Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas durante dois anos e, posteriormente, no Hospital Leonor Mendes de Barros. Dos colegas de profissão, destaca Edmundo Vasconcelos, seu “amigo pesssoal”.

Lembra com carinho e orgulho de um trabalho que desenvolveu nos anos 60.  A Exposição Museu Educativo de Saúde, um ônibus itinerante que percorria o Estado de São Paulo. Dentro do veículo, peças em cera reproduziam a “migração do espematozóide, cérebro, pulmões, fetos gêmeos, hidrocefalia, feto teratológico, hérnia dupla, sífilis congênita, lesão sifilítica do lábio” e até “desvirginamento”, entre outros.

A exposição contava também com quadros ilustrativos, fotos e cartazes com advertências, definições e orientações sobre assuntos relacionados à saúde. Matta conta que dedicou-se muito ao estudo e prevenção da sífilis, doença que representou um grande problema  a seus contemporâneos. O médico revelou que teria tentado implantar um serviço de atendimento aos portadores de sífilis na Capital, mas foi incompreendido e não pôde “levar a iniciativa adiante”.

Os anos de dedicação ao trabalho de educação em saúde levaram-no a criar o Studio Saciar – Saúde Ciência e Arte, Museu Educativo Médico Social que funciona em sua casa. O studio está espalhado por todos os cômodos do sobrado – inclusive, seu próprio quarto – aberto à visitação. Além de peças similares às da antiga exposição itinerante, o visitante ainda pode encontrar por lá alguns “equipamentos hospitalares” antiquíssimos, um leito, fotos de artistas, cartas, bonecos usados em aulas de Medicina e até velhos vestidos das irmãs do médico, caso “alguém queira se produzir para fazer uma foto”. Para entrar no espaço, “dedicado a palestras educativas”, o “público” só precisa assinar o livro de visitas.

Sobre a Medicina do passado e do presente, observa que no âmbito “científico houve um avanço fantástico”, mas “os médicos não são bem-remunerados pelo seu trabalho”. Para ele, isso não significa que o passado foi melhor. “Nunca ganhamos bem. As coisas é que aumentaram muito de valor agora”, avalia.  Questionado se pensa em parar de ir ao consultório, responde com serenidade: “se deixo de trabalhar, sinto saudades”.


Foto: Osmar Bustos


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