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ENTREVISTA
O imunologista e professor Júlio Voltarelli aborda procedimentos em pesquisa que envolvem células-tronco adultas e embrionárias


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Cremesp fiscaliza profissionais que atuam nos serviços de urgência e emergência


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Edição 211 - 03/2005

ENTREVISTA

O imunologista e professor Júlio Voltarelli aborda procedimentos em pesquisa que envolvem células-tronco adultas e embrionárias



Estudo com célula-tronco adulta traz esperança

Desde que se intensificaram no país os debates referentes a pesquisas com células-tronco embrionárias, depois da aprovação da Lei de Biossegurança pelo Congresso Nacional, em 2 de março, o imunologista Júlio Voltarelli vem recebendo mais telefonemas de jornalistas, pedindo detalhes sobre o estudo que conduz na Unidade de Medula Óssea do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto.

“O assédio é grande. Para muitos leigos, célula-tronco é tudo igual”, brinca o professor. Obviamente, não é: além das peculiaridades técnicas envolvendo a cultura e o emprego destas promissoras fontes terapêuticas, a modalidade adulta fica livre dos dilemas éticos embutidos na que envolve criação e destruição de embriões. Outra diferença: o estudo com células adultas está relativamente adiantado, trazendo esperanças concretas a portadores de doenças auto-imunes como esclerose múltipla e até diabetes – ambas focalizadas pela equipe de Voltarelli. Leia, a seguir, entrevista concedida pelo professor ao Centro de Bioética do Cremesp, realizada em parceria com o Jornal do Cremesp.

Centro de Bioética – Como começaram suas pesquisas envolvendo células-tronco adultas?
Júlio Voltarelli
Partiram de minha experiência clínica com pacientes reumáticos e por haver tido a oportunidade de acompanhar o início das pesquisas voltadas a lúpus e esclerose múltipla em unidades norte-americanas de transplante, durante estágio em San Diego em 1999 e 2000. Voltando ao Brasil, organizei workshop em Ribeirão Preto, do qual participaram alguns convidados do exterior. Juntos, decidimos trabalhar especificamente com lúpus; esclerose múltipla e esclerose sistêmica, as doenças mais graves que estavam sendo tratadas com células-tronco. A partir daí iniciamos estudo cooperativo com outros centros, principalmente o Hospital Albert Einsten que, em 2001, realizou o primeiro transplante contra esclerose múltipla.

A técnica para a captação e a utilização de células-tronco adultas é muito diferente em comparação a que emprega células embrionárias?
A preparação da primeira é bem diferente. O que fazemos é dar ao paciente o fator de crescimento de granulose (G-CSF), hormônio que leva as células-tronco a se desgrudarem da medula e irem para o sangue. Depois, o sangue é coletado, submetido a uma cultura sérica e congelado em nitrogênio líquido. A pessoa, então, é submetida à quimioterapia e imunoterapia, que causam a destruição de seu sistema imunológico, reconstruído posteriormente pelo transplante do material coletado e congelado. 

É mais fácil usar células adultas, já que não há o entrave ético vinculado ao uso de embriões?
Bem mais fácil, pois as células adultas estão fora de toda essa celeuma. Não é preciso a autorização do casal de doadores de gametas, enfrentar tanta gente contrária. Além das questões éticas, há também dificuldades técnicas no uso de células embrionárias. Uma delas: devemos encontrar uma forma de dar origem à linhagem celular que queremos, excluindo a possibilidade de gerar teratomas. Estudos com células adultas também são mais imediatos, cerca de mil transplantes já foram realizados. É claro que, para terapia regenerativa, células-embrionárias se constituem numa promessa melhor, no sentido de você poder injetá-las diretamente numa lesão de medula espinhal ou na retina, por exemplo, e estabilizar o problema. Veja: nosso grupo faz um tipo de terapia regenerativa, mas queremos regenerar o sistema imunológico, não um órgão em si, como o pâncreas. Na verdade, promovemos terapia antiinflamatória, para a qual as células adultas já dão conta.

Quantos pacientes já receberam de seu grupo autotransplante de células-tronco? Todos se beneficiaram?
Tratamos 30 pacientes com esclerose múltipla, dos quais 22 estão com a doença estabilizada; 16 com doenças reumáticas, sendo que dez melhoraram bastante e, depois disso, entramos em outra etapa, voltada ao diabetes. A doença mais difícil de se lidar talvez seja o lúpus, considerando-se que o paciente, às vezes, apresenta doença renal ou acometimentos no pulmão e cérebro, que resultam numa tolerância baixa ao processo. Em breve, em parceria com o Albert Einstein, pretendemos usar transplante contra esclerose lateral amiotrófica (ELA, doença que se caracteriza pela degeneração progressiva dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal). A pesquisa já foi aprovada por nosso Comitê de Ética, mas ainda estamos buscando financiamento para promovê-la. Temos planos até para tratar fibrose pulmonar, como a ELA uniformemente fatal e que, por isso, carece de alternativa urgente de tratamento. Recentemente escrevemos um capítulo de um livro do professor Richard Burt, da Northwestern University em Chicago, autoridade mundial no assunto, falando a respeito de transplante no combate da asma, que apesar de não ser doença auto-imune, é imunológica. Ainda não contamos com protocolo no tema, porém, existe uma base racional que indica a possibilidade do procedimento.

Em média, depois de quanto tempo o transplantado apresenta melhora?
Tudo depende da doença, mas, em geral, os resultados são imediatos: a imunossupressão é muito forte, estabilizando o sistema imunológico da pessoa. Por exemplo, em esclerose múltipla os surtos são interrompidos. Quanto ao diabetes, a melhora é quase imediata, o paciente pára de tomar insulina.

Seu grupo é pioneiro no tratamento com células-tronco adultas em diabetes?
Pelo que eu saiba, não existe no mundo nenhum protocolo com estratégia semelhante. Um outro método, diferente, implementa transplantes de ilhotas pancreáticas. O nosso é bastante promissor em diabetes do Tipo 1, mas há uma limitação, ou seja, não estamos tratando pacientes com a doença estabelecida a longo tempo e, sim, logo que aparecem os sintomas. Buscamos, no fundo, impedir que a pessoa fique diabética. Começamos com um grupo de jovens, capaz de entender as implicações de um tratamento que acarreta certo risco, inclusive de morte, por causa da imunossupressão e quimioterapia. Não quisemos envolver apenas as famílias deles e deixar a responsabilidade da decisão apenas nas mãos dos pais. Devido a essas implicações não incluímos crianças. Mas os resultados são tão animadores que estamos revendo tal decisão.

Com a aprovação pela Câmara da Lei de Biossegurança e a intensificação do debate sobre o uso de células embrionárias, existe a hipótese de que projetos com células-tronco adultas sejam relevados a um segundo plano?
Não, porque tais estudos já estão funcionando. As coisas mudariam se fosse feito estudo comparativo randomizado, no qual fossem superadas dificuldades relativas ao cultivo de células embrionárias em laboratório; contando com garantia das condições de segurança; derivando exatamente as linhagens que a gente quer; tratando alguns pacientes. Enfim, se pudéssemos demonstrar que células embrionárias são melhores do que as adultas. Se isso ocorresse, pararíamos de usar células adultas e usaríamos somente as embrionárias.

Médico é paciente em transplante com células-tronco adultas

Apesar de sua especialidade ser ginecologia e obstetrícia, o médico Antônio Roberto Torquato Alves tem muito para contar sobre transplantes com células-tronco adultas.

Em 1992, desenvolveu os primeiros sintomas de esclerose múltipla, doença degenerativa progressiva que acomete o sistema nervoso central. “Assim que obtive o diagnóstico, decidi pesquisar tratamentos. Fui à Bélgica e aos EUA e percebi que, infelizmente, ninguém sabia direito o porquê de a doença aparecer e como se manifestava. O máximo que os especialistas podiam fazer era prescrever medicamentos para evitar os surtos e a progressão”, lembra.

Até que, durante sua pesquisa, chegou ao grupo de Imunologia da Faculdade de Medicina da USP/Ribeirão Preto e se candidatou a um transplante experimental com células-tronco adultas. Nem tudo, porém, saiu conforme Torquato esperava. “A imunoterapia e quimioterapia causaram complicações que resultaram em coma e sete meses de internação”.

Os esforços da equipe da UTI do HC/Ribeirão conseguiram reverter o quadro e, em março de 2004, o ginecologista retornou para casa. Em agosto, voltou a clinicar. “Se tudo correr conforme estamos esperando, no final de 2005, dois anos depois do transplante, voltarei a andar. Minhas células-tronco foram geneticamente ‘limpas’ e estão se dividindo em células boas”, entusiasma-se.

Valeu a pena? “Quando me perguntam isso, nem pestanejo em responder: se precisasse, faria outro transplante. Estou tranqüilo, era a minha única chance”.


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