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CAPA

PONTO DE PARTIDA
Uma visão sem ação é somente um sonho. Uma ação sem visão é apenas um passatempo. Uma visão com ação pode transformar o mundo. Joel Baker


ENTREVISTA
Chico de Oliveira, sociólogo, professor da USP e um dos fundadores do PT


CRÔNICA
Texto bem-humorado do médico e ex-jogador de futebol Sócrates


POLÍTICA DE SAÚDE
O acesso universal a medicamentos é uma meta que tem de ser o norte das ações...


CONJUNTURA
Projeto Xingú: iniciativa pioneira de atendimento médico feito em aldeias indígenas do país


COM A PALAVRA
A Medicina-espetáculo. Por Joaquim Prado Pinto de Moraes Filho


DEBATE
Cesárea a pedido


MÉDICO EM FOCO
Euryclides Zerbini


GOURMET
Polenta Especial: receita do anestesiologista José Carlos Canga


HISTÓRIA DA MEDICINA
O uso do branco por médicos


CULTURA
Pinacoteca de Santos


LIVRO DE CABECEIRA
O Código da Vinci e Tao Te King: Um Pequeno Grande Livro


GALERIA DE FOTOS


Edição 28 - Julho/Agosto/Setembro de 2004

MÉDICO EM FOCO

Euryclides Zerbini

Transplante Cardíaco

O legado de Zerbini

Em relação à primeira fase do transplante cardíaco, o Brasil foi contemporâneo aos demais centros que, no mundo, foram pioneiros dessa modalidade de tratamento cirúrgico de doença cardíaca avançada. Menos de seis meses após a realização do pioneiro transplante por Christian Barnard, em Capetown, o professor Euryclides Zerbini e equipe concluíam o primeiro transplante cardíaco da América Latina, em 25 de maio de 1968.

Para isso concorreu o fato de terem sido colegas de especialização no serviço de Clarence Walton Lillehey, em Minneapolis, cerca de dez anos antes, Christian Barnard e Delmont Bittencourt, este último entusiasta assistente do professor Zerbini. Delmont Bittencourt era homem de vasta cultura médica e humanística, com excepcional domínio da língua inglesa. Graças à sua amizade com Barnard, pôde viajar à África do Sul, logo após o transplante pioneiro, conseguindo todas as informações para a experiência inicial brasileira.

Entretanto, devido aos problemas com a rejeição cardíaca no final da década de 60, e ainda sem a disponibilidade de ciclosporina, foram bastante prudentes, pelo menos para as condições brasileiras, as decisões de Zerbini e Décourt de suspenderem o programa até que novos horizontes, menos sombrios, alterassem o panorama desfavorável da época. Na maioria dos outros centros mundiais também prevaleceu a mesma decisão, com a quase solitária manutenção do programa em Stanford, na Califórnia, chefiado pelo médico Norman Shumway, com resultados progressivamente melhores, porém a um alto custo financeiro.

A experiência inicial brasileira não foi em vão. Apesar de somente um dos três pacientes ter sobrevivido cerca de um ano, de nenhuma forma isso se constituiu um fracasso. A grande eficiência da técnica cirúrgica e do pós-operatório ficou plenamente demonstrada. Os três pacientes operados recuperaram-se do procedimento cirúrgico rapidamente, foram extubados em poucos dias e faleceram pelo binômio infecção/rejeição que, naquele tempo, era de difícil controle, ou até impossível, em todos os centros mundiais.

A demonstração da maturidade da cirurgia cardíaca brasileira foi absolutamente incontestável e coroou o já extenso trabalho em valvulopatas e congênitos, principalmente em crianças portadoras da tetralogia de Fallot, doença na qual o Zerbini e equipe já tinham enorme experiência, com resultados comparáveis aos dos maiores centros do mundo na época. Essa credibilidade levou a saltos ainda maiores de pioneirismo e excelência de resultados com o início das novas técnicas de proteção miocárdica, cirurgia de revascularização coronariana, abordagem a cardiopatias congênitas complexas – como a cirurgia de Adib Jatene em 1975 – ajudando a projetar a cirurgia cardíaca brasileira para o alto nível de qualificação internacional em que se encontra.

Mas tivemos que aguardar muitos anos para que se retornasse ao transplante cardíaco no Brasil. O advento da ciclosporina e a indiscutível melhoria de resultado do transplante cardíaco em vários centros mundiais motivou o reinício, no começo de 1985, com muito sucesso, do programa brasileiro, nas cidades de Porto Alegre e São Paulo.

Na equipe do professor Zerbini, na Beneficência Portuguesa, foram realizados transplantes cardíacos com sobrevida prolongada ainda no primeiro semestre de 1985. Manuel Amorim da Silva, operado em 3 de junho de 1985, foi o primeiro paciente dessa série e também o caso inicial da pioneira experiência mundial de transplante cardíaco em portadores de doença de Chagas. Dezenove anos depois, este paciente encontra-se muito bem, sendo monitorado por nós, na Beneficência Portuguesa.

O cirurgião José Pedro da Silva e equipe realizaram, na Beneficência Portuguesa de São Paulo, o primeiro transplante cardio-pulmonar com sucesso, no Brasil e na América Latina, em dezembro de 1988. Em 1992 Silva e sua equipe fazem o primeiro transplante heterotópico em um paciente com resistência vascular pulmonar elevada, preservando o coração original para fazer frente a essa situação e implantando o órgão do doador como coração auxiliar.

O número total de transplantes realizados no Brasil a cada ano é pequeno, em nítido contraste com o tamanho da população e com o grande desenvolvimento da cirurgia cardíaca, apesar de inúmeros centros do país estarem aptos a realizar tal procedimento. Com o progressivo apoio do SUS às cirurgias de transplante, este quadro pode vir a apresentar melhora em futuro próximo.


O Brasileiro do Século

Euryclides Zerbini, nasceu em Guaratinguetá, interior de São Paulo, em 1912, filho de Eugênio Zerbini, um imigrante italiano apaixonado pela cultura clássica que deu aos outros filhos os nomes de Eurídice, Eurípides, Euryale e Eunice. Do pai, Euryclides herdou o gosto pela leitura, era
um devorador de livros. Formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1935, trabalhou inicialmente com Alípio Correia Neto,
especializando-se em cirurgia torácica. Foi nomeado professor da USP em 1936, quando tinha apenas 24 anos, com tese brilhante sobre os efei-
tos da vitamina C na cicatrização das feridas.

Em 1942, Zerbini atendeu a um menino em coma na Santa Casa, cujo coração foi penetrado por um estilhaço de ferro. Zerbini abriu o peito
do menino e estancou a hemorragia interna. “Carrego até hoje a lasca de ferro no peito, mas nunca tive problemas. Devo minha vida ao dr. Zerbini”, disse o mecânico aposentado Disnei Zanolini, aos 64 anos. Essa história faz parte da edição especial da Revista Isto É de 2000, "Brasileiros do Século”, na qual Zerbini é citado com 45,3% dos votos dos leitores da publicação.

Com a carreira em ascensão, Zerbini segue, em 1944, para os Estados Unidos em um estágio com Ewarts Graham, o maior cirurgião toráxico do mundo na época – ainda na era pré-cirurgia cardíaca. De volta ao Brasil, tornou-se diretor do pronto-socorro dos Hospital das Clínicas de São Paulo e cirurgião-chefe do Instituto de Cardiologia, sendo sucedido por Adib Jatene. Em 1957, iniciou as primeiras cirurgias cardíacas com circulação extracorpórea. Instalou uma oficina experimental no Hospital das Clínicas, iniciando a produção artesanal das máquinas que fazem a circulação e oxigenação do sangue fora do corpo durante o procedimento cirúrgico. Em 1975, fundou o Instituto do Coração (Incor) dirigindo-o pelos sete anos seguintes, o que considerou a sua maior obra.

Casado com a também médica Dirce Costa Zerbini, voltava sempre a Guaratinguetá, onde tinha sítio para passar os fins de semana. Em 1977,
o único dos três filhos do casal que resolveu seguir a Medicina morreu em um acidente automobilístico, seis dias após a formatura.

O dr. Zerbini morreu em 1993, aos 81 anos vítima de um melanoma metastático. Foi um grande mestre que ensinou gerações de cirurgiões
brasileiros, tendo hoje uma associação que leva o seu nome e que concede um prêmio anual em sua memória a cirurgiões de destaque.

Os Zerbinis na história
Irmão de Euryclides, o general Euriale Zerbini também faz parte da história do país. Ele foi comandante da Força Pública de São Paulo na década de 50 e, como general, foi um dos repre-sentantes do alto escalão militar que tentou abortar o Golpe de 64. O governador Adhemar de Barros aderiu ao movimento contra Goulart, assim como o general Amauri Kruel, comandante do II Exército. O general Euriale de Jesus Zerbini, comandante em Caçapava, ameaçava barrar as tropas de Kruel em direção ao Rio de Janeiro, sendo preso e cassado a seguir.


*José Henrique Andrade Vila, cardiologista e intensivista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e conselheiro do Cremesp.


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