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Edição 31 - Abril/Maio/Junho de 2005

MEIO AMBIENTE

Compostos químicos e a saúde

Impacto dos compostos químicos na saúde

* Luciane Maria Ribeiro Neto
* Ieda T.N. Verreschi


O desenvolvimento industrial pós II Guerra Mundial introduziu inúmeros compostos químicos no mundo, sem prévia avaliação de seus efeitos sobre os seres vivos.


A atenção a alterações em sistemas endócrinos, nervoso, imunológico e aos efeitos carcinogênicos entre outros provenientes de investigações epidemiológicas, apontaram a necessidade de estudos de impacto ambiental das substâncias e dos produtos de degradação. Os compostos químicos que exercem efeitos tóxicos a curto, médio ou longo prazo são utilizados para os mais variados fins na indústria e na agricultura. Muitos são resistentes à biodegradação (Poluentes Orgânicos Persistentes - POP) e, mesmo quando os resíduos são tratados pelos métodos convencionais, podem voltar à biosfera reiniciando novo ciclo.

A Environmental Protection Agency (EPA) dos EUA define como desregulador endócrino todo composto químico que interfere no sistema endócrino, não apenas nas glândulas e respectivos hormônios, mas também no processo de síntese, armazenamento, liberação e transporte de hormônios aos receptores. O International Program on Chemical Safety (IPCS), a Organização para a Cooperação no Desenvolvimento e Economia (OCDE) e o Scientific Committee for Toxicity, Ecotoxicity and the Environment (SCTEE) adotam como definição de desregulador endócrino toda substância ou a mistura de substâncias exógenas que alteram uma ou várias funções do sistema e têm, conseqüentemente, efeitos adversos sobre a saúde num organismo intacto, sua descendência e subpopulações. Nos seres humanos, a principal via de exposição aos desreguladores endócrinos é a digestiva, pelo consumo de alimentos contaminados.

O leite materno também pode conter compostos tóxicos. Alguns dos desreguladores estão sendo responsabilizados pelo avanço da idade para o aparecimento “normal” da puberdade. Já está demonstrado que essas substâncias provocam alteração na função reprodutiva e anormalidades no desenvolvimento dos animais, mas a comprovação das interferências sobre os humanos ainda merece estudos sistemáticos. Os desreguladores podem ser de origem sintética ou natural. Do grupo de substâncias utilizadas na indústria e na produção de bens de consumo, destacam-se os subprodutos de processos industriais como as dioxinas e as bifenilas.

As dioxinas, provenientes da produção de cloro e compostos clorados, principalmente gerados a partir da incineração de resíduos industriais, diminuem os níveis de andrógenos, hormônios da tireóide e de insulina - porque aceleram o metabolismo e a eliminação desses hormônios. Em relação aos policlorados bifenílicos (PCB) presentes em transformadores e equipamentos elétricos, a principal fonte de exposição é a liberação acidental. Essas substâncias podem atuar simultaneamente como agonistas e antagonistas de hormônios.

Como antagonistas, podem bloquear os receptores hormonais. No grupo de substâncias de aplicação na agricultura destacam-se o DDT (diclodifeniltricloroetano), seus produtos de degradação e o HCB (hexaclorobenzeno). Embora o Brasil tenha banido seu uso em 1995, o DDT foi utilizado no combate à malária até meados de 1997. Seus efeitos no sistema endócrino são provenientes do bloqueio de receptores hormonais atuando como antagonistas. Utilizado como fungicida para tratamento de sementes em síntese orgânica e como preservador de madeira, o HCB tem estudos realizados in vitro com células de próstata e in vivo com animais de laboratório que demonstram ação androgênica.

Poucos estudos
Em conseqüência dos efeitos desreguladores endócrinos nos seres humanos, essas substâncias têm sido alvo de estudos em todo o mundo. No Brasil, os estudos são poucos e restringem-se à exposição ocupacional ou a acidentes de impacto ambiental.  A principal causa da exposição ocupacional é a utilização inadequada de equipamentos de proteção individual e a falta de instrução e treinamento ao trabalhador.

Na década de 80, na região cacaueira do sul da Bahia, foram avaliados trabalhadores expostos ocupacionalmente ao hexaclorociclohexano (HCH) e ao DDT, quanto à presença de resíduos dos praguicidas no sangue. Esses trabalhadores atuavam na agricultura ou na aplicação de inseticidas em campanhas de saúde pública. Os níveis mais elevados de DDT foram encontrados nos aplicadores de inseticidas com mais de cinco anos na atividade, seguidos pelo grupo de aplicadores com um ano ou menos na atividade. Na avaliação do HCH, as maiores concentrações séricas foram encontradas no grupo de trabalhadores atuando há mais de cinco anos na aplicação de inseticidas em campanhas.

Em 1999 e 2000, foram avaliados trabalhadores do Estado de Mato Grosso expostos ao DDT devido às campanhas de saúde pública para controle de malária - vigente até 1997. Os níveis de DDT no sangue foram maiores para os agen-tes da saúde, seguidos pelos motoristas das campanhas.  Por ser um dos maiores consumidores de praguicidas do país, Pernambuco foi objeto de pesquisa em 2000. A pesquisa abrangeu 113 dos 178 municípios do Estado, constatando-se o uso de compostos proibidos, como HCH, aldrin, DDT e endosulfan em diversas culturas, inclusive de hortaliças.


Quando o aspecto é a exposição ambiental, os achados não demonstram níveis residuais compatíveis com os relatos da utilização dos praguicidas.

As avaliações clínicas realizadas nos estudos eram direcionadas principalmente ao sistema hepático e neurológico. Supõe-se que, com os conhecimentos científicos e recursos tecnológicos atuais, os dados poderiam demonstrar um panorama de exposição diferente dos apresentados, principalmente se os estudos considerassem a população não exposta ocupacionalmente às substâncias. Notícias sobre a exposição de brasileiros aos agentes químicos desreguladores do sistema endócrino são freqüentes na mídia, principalmente em São Paulo, Estado que se destaca pelo desenvolvimento industrial, crescimento populacional desordenado e nível tecnológico.

A preocupação com a qualidade do ar e da água é antiga, mas com o solo é mais recente, e só se tornaram evidentes no final da década de 70, após vários desastres ambientais ocorridos no mundo. Muitos países já têm políticas e legislações de preservação dos recursos naturais. No Brasil, a preocupação com a contaminação do solo também aflorou na década de 70, mas se intensificou nos últimos anos com a descoberta de depósitos clandestinos de resíduos químicos perigosos. A Comunidade Européia tem ampla normatização sobre a utilização dos recursos naturais e exploração do solo. Há, por exemplo, limites máximos de resíduos de pesticidas permitidos em alimentos. No Brasil, o assunto ainda não está regulamentado de maneira uniforme, por meio de um único órgão governamental. Há portarias e resoluções de variados órgãos da administração pública, tanto no âmbito federal, como estadual e municipal.

É conhecida a dificuldade de determinar a relação entre os efeitos e as substâncias que atuam como desre-guladores endócrinos, principalmente em decorrência da múltipla exposição a agentes químicos.

Isso torna patente a necessidade de formação de grupos de pesquisa multidisciplinares que busquem respostas, em benefício da saúde do planeta e de seus habitantes.

* Luciane Maria Ribeiro Neto é bioquímica, professora visitante do Laboratório de Esteróides da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

* Ieda T.N. Verreschi  é endocrinologista, conselheira do Cremesp e professora adjunta da Disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp.



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