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CAPA

EDITORIAL
Destaque desta Edição: debate sobre a pós-graduação em Medicina no Brasil


ENTREVISTA
Dom Eduardo Uchôa, reitor do Colégio e da Faculdade de São Bento, é o convidado especial desta edição


CRÔNICA
José Feliciano Delfino Filho - Zezo - escreveu especialmente para esta edição


CONJUNTURA
Quanto custa a violência urbana para a Saúde?


ESPECIAL
Um RX de Roraima, Estado rico em biodiversidade e... conflitos


DEBATE
Em discussão, a missão da pós-graduação no Brasil


MÉDICO EM FOCO
Sady Ribeiro conta sua jornada nos Estados Unidos


LIVRO DE CABECEIRA
A guerra contra os fracos - Edwin Black


HOBBY DE MÉDICO
Roberto Caffaro apresenta sua invejável coleção de canetas raras


GOURMET
A arte de inventar receitas - Roberto Franco Morgulis


CULTURA
A arte de Belmiro de Almeida nas telas, desenhos e caricaturas


HISTÓRIA DA MEDICINA
120 anos do Serviço de Oftalmologia da Sta. Casa de Misericórdia de São Paulo


ACONTECE
Cow Parade: maior exposição de arte de rua do mundo


CARTAS & NOTAS
Elogios ao novo projeto gráfico da Revista


GALERIA DE FOTOS


Edição 32 - Julho/Agosto/Setembro de 2005

CRÔNICA

José Feliciano Delfino Filho - Zezo - escreveu especialmente para esta edição

Médico, esse sujeito normal
como qualquer um...

Foi um encontro casual, numa padaria. Há muito não nos víamos. Ele advogado, eu médico.
– Você por aqui? – abraçou-me enquanto equilibrava uns pacotes.
– Eu mesmo – respondi meio constrangido enquanto ansiava para que a fila andasse.
– Você não mudou nada... Nadinha.
– Bondade sua. Você é que está bem... – falei trocando olhares com um sujeito impaciente com nossa conversa e com a fila que não andava.
– Eu?! – gritou meu amigo. – Nem te conto. Tô acabado. – Ao dizer isso seu rosto mudou. Tristonho, ele suspirou:
– O coração... Sabe o que é isso? – apontou para os pacotes.  – Remédios.
Eu acabara de conseguir mais um paciente e logo na padaria. Acontece, nenhum médico escapa. Mencione que é médico em qualquer lugar e entenderá o que digo... Serão reações e frases como: “Sem querer incomodá-lo, mas o senhor é médico deve saber se aquele remédio...”.
Ou então: “Tenho um conhecido que fez uma cirurgia e...”



Nós, médicos, ao cruzarmos com alguém deveríamos simplesmente dizer “oi”. Porque se perguntarmos: “Como vai?”, o sujeito pede o seu parecer. Não tive como não perguntar ao meu amigo. É um imperativo. O simples mencionar de alguma doença faz o médico proferir as palavras proibidas: “O que está acontecendo?” No meu caso estava estabelecida a relação médico/paciente e fila da padaria.

– Você está ótimo – insisti.
Meu amigo olhou-me de cima abaixo e disse com um olhar triste:
– Você diz isso porque quem vê a cara não vê “O” coração.
– Não é nada disso, você continua o mesmo e...  – nem terminei a frase ele completou pesaroso:
– Se todo homem tem um preço acho que nasci amostra grátis...
Impedindo que a situação piorasse, disse em tom de brincadeira: 
– Não é nada disso. Todo mundo fica doente, uma coisinha aqui, outra ali, mas passa... Creia, breve teremos o “curédio”. Consulte sempre um médico e morra com saúde – e caí na gargalhada.
Ninguém riu. Calei.
Ele continuou:
– Você diz isso porque médico não fica doente.
Aos olhos de muita gente, médicos não comem, dormem ou vão ao banheiro. Seríamos seres assépticos, assexuados e ungidos pelo dom da cura.
Outra lenda urbana sobre médicos é que sabemos tudo, ou quase. Não raro nos perguntam sobre o que achamos do mixordiozídimo de barafundado a laser – sim, tem que ser a laser...



E se você perguntar onde a pessoa ouviu tal coisa e ela responder: “no Fantástico!”... Acautele-se. Arrume uma emergência e saia rapidamente. Nenhum médico sabe mais do que o Fantástico.

Aliás, meu maior sonho sempre foi prestar concurso para médico de novela. Os colegas são bem sucedidos, têm clínicas lotadas, carros importados, muitas mulheres e tratam absolutamente de tudo.

Mas diante de perguntas assim, todo médico deveria dizer: “Quer saber? Não tenho a mínima idéia”. Mas, não o faz. Também estamos contaminados pela “lenda urbana” de que devemos saber tudo.

O médico, esse ser humano comum, pode viver situações dramáticas. Exemplo: eu estava num restaurante de praia quando um de meus pacientes reconheceu-me e disse:

– Doutor! – só essa expressão dita num restaurante cheio já provoca arrepios em qualquer um – O senhor comendo frituras?
– Nhum, nhum... – Emiti alguns sons enquanto lutava com um bocado de frutos do mar.
– O senhor não falou que gordura era veneno? – disse apontando para meu prato.
– Dishe mahs... – procurei o guardanapo para limpar a boca.
– E o que é isso aí ao seu lado? – insistiu inquisitivo.
– Isho é uma caipirinha... Shaúde! – sorri tentando parecer natural, enquanto nas outras mesas já me olhavam com desprezo.
– Bebida? O senhor bebe?
– Socialmente – respondi.
– Mas, o senhor me proibiu de comer gorduras e tomar bebidas alcoólicas, que não deveria misturar com remédios...
– Mas eu não tenho colesterol alto – retruquei.
– Ainda não toma remédios – vociferou ele. – Ainda! Isso é camarão? Aproveite. Porque com essa dieta, meu caro doutor, suas artérias estarão entupidas antes do senhor pedir a conta.
– Mesmo? – respondi surpreso. – Veja bem... Estou de folga, passeando...
– Estou vendo. O que é essa bituca?
As outras pessoas se levantaram para olhar com uma expressão de horror.
– Sei lá...  – respondi acuado.
Ele ergueu a ponta do cigarro entre os dedos, como se fosse um inseto nocivo e olhou para a platéia:
– Uma ponta de cigarro! O senhor fuma? O senhor sabe que o cigarro mata?
– Eu não estava fumando, eu não...
– E nem vai. Graças a nós – disse. As pessoas ovacionaram.
– Seus pulmões devem estar pretos de nicotina, daqui a pouco vai começar a tossir...
Pasmo, até engasguei.
– Não disse? – gritou ele.  – Parece que o senhor está vermelho doutor?
– Também pudera, o senhor está me colocando numa posição... – Tentei argumentar, mas o garçom enfezado arrancou o prato da minha mesa e me entregou a conta sem que eu tivesse pedido.
– Ou seria falta do protetor solar doutor? – sorriu meu torturador arqueando as sobrancelhas com ar de esperteza. E de modo estranho, com um sorriso irônico, perguntou: – Não diga que esqueceu só hoje?
– Eu...
Ele passou o dedo pela minha cara e mostrou para os torcedores:
– Seco! – disse com satisfação. Os fregueses deixaram escapar um “oh!!!”
Percebi que a situação estava descontrolada, quando minha mulher olhou para a aliança e minha filha cobriu a cabeça com o guardanapo. Saí dali apressado, não o suficiente para deixar de ouví-lo gritando:
– Procure um médico doutor!

*Zezo – José Feliciano Delfino Filho é nefrologista e oficial médico da P.M./SP. Redator de cinema, TV, teatro, jornais, WEB e rádio, sob os pseudônimos Zé Feliciano, Zezo e Thiago Filho.  Para a TV redigiu para o programa Bronco, Rede Bandeirantes e para o quadro Monólogos – Chico Anísio, Fantástico, Rede Globo, entre outros. É um dos criadores do site de humor Hienas.


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