PESQUISA  
 
Nesta Edição
Todas as edições


CAPA

PONTO DE PARTIDA (pg. 1)
Renato Azevedo Júnior - presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág.4)
Marcia Angell


HISTÓRIA (pág. 9)
Estados Unidos, por Gore Vidal


CRÔNICA (pág. 12)
Luis Fernando Verissimo*


ESPECIAL BOLÍVIA 1 (págs.14 a 25)
A realidade precária dos cursos de Medicina particulares


ESPECIAL BOLÍVIA 2 (págs.14 a 25)
Depoimentos sobre a formação médica em escolas particulares


CABECEIRA (pág. 27)
Por Reinaldo Ayer*


CONJUNTURA (págs. 28 a 31)
Longevidade e cuidados com o idoso


GIRAMUNDO (págs. 32-33)
Curiosidades de ciência e tecnologia, história e atualidades


PONTO COM
Informações do mundo digital


SUSTENTABILIDADE (pág. 36)
Idec, 25 anos


CULTURA (pág. 38)
A flauta encantada do mago do choro


HOBBY
Campeonato de Futebol de Equipes Médicas


GOURMET (pág. 44)
“Cozinhando eu relaxo”


FOTOPOESIA (pág. 48)
Paulo Leminski


GALERIA DE FOTOS


Edição 61 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2012

CONJUNTURA (págs. 28 a 31)

Longevidade e cuidados com o idoso

Cuidar do idoso é desafio para a Medicina do século 21

Confira os dez itens que devem ser levados em conta no atendimento à saúde dos pacientes longevos

Se o século 20 caracterizou-se pela grande revolução etária da população mundial, o século 21 será marcado pela solução dos problemas que esse fenômeno determinou. O aumento da expectativa de vida traz novos desafios aos médicos, e não apenas aos geriatras e gerontólogos. Os demais especialistas devem se preparar para receber, cada vez mais, pacientes idosos ou muito idosos, com um olhar cuidadoso para suas peculiaridades. Para tal, muitas possibilidades de atuação em diferentes fases do desenvolvimento terão de ser rapidamente implementadas.

Sucintamente, o envelhecimento pode ser entendido como um processo natural (senescência), em que ocorre redução da reserva funcional, sem comprometer, geralmente, a função necessária para as atividades do cotidiano. A existência de uma limitação funcional evidente, mesmo em um nonagenário, deve ser compreendida como efeito de um processo fisiopatológico (senilidade), que determina uma ou mais enfermidades.

À medida que envelhece, o homem vai acumulando doenças crônicas que farão parte, com grande frequência, do seu patrimônio pessoal durante toda a existência. Por outro lado, é absolutamente patente que as doenças crônicas causem suas principais consequências quando cursam de forma descontrolada ou descompensada. Há, portanto, nítida diferença entre o portador de hipertensão arterial sistêmica (HAS) devidamente tratado e aquele que mantém níveis pressóricos elevados.

Estudos realizados no município de São Paulo revelaram que 78% dos idosos tinham, pelo menos, uma doença crônica que necessitava de tratamento medicamentoso. Esse dado é compatível com o do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, de que 75% da população idosa americana possuíam, pelo menos, uma doença crônica e, dentre esses, mais da metade (56%) apresentava duas ou mais(1). É necessário, portanto, minimizar os efeitos deletérios da doença para que a maioria dos idosos viva um envelhecimento saudável.

Muitas são as estratégias recomendadas para a promoção do envelhecimento saudável. Em 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que a “promoção da saúde do idoso seja realizada por ações interdisciplinares” e que “essas ações sejam dirigidas, especificamente, para reduzir, nessa população, o risco de adoecer e de morrer”(2). Elas corroboram nosso conceito de atuação identificado como senecultura (termo proposto em 1984), que vem a ser o “conjunto de ações interdisciplinares que contribuem efetivamente para promoção da saúde do idoso”(3).

A população que apresenta maior crescimento relativo, nos países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, é a dos “muito idosos” (pessoas com 80 anos ou mais). Nesta faixa etária ocorrem as maiores complicações das doenças crônicas malcuidadas. Dados recentes da professora Maria Lúcia Lebrão (Projeto SABE, 2003) e da OMS revelaram que, dentre os muito idosos, a incapacidade de realizar todas as atividades básicas da vida diária (AVD) é superior a 75%, e as atividades instrumentais (AIVD), de mais de 80%(4).

Essas limitações inviabilizam a permanência desses octagenários em seu ambiente se não houver um cuidador, elemento crítico para a manutenção da integridade física e emocional do longevo, o que favorece a opção familiar pela institucionalização.

A busca universal por soluções que previnam e/ou recuperem a saúde, com vistas a preservar a funcionalidade de quem envelhece visa, além da redução da morbimortalidade, incluir o envelhecimento no cenário evolutivo do ser humano saudável. Dentre elas, podemos citar como as principais:

1. Avaliação Global do Idoso (AGI): conhecer as particularidades de cada indivíduo, nos aspectos físico, psíquico e social, permite melhor valorização dos sinais e sintomas e dos resultados de exames complementares, determinando melhor relação custo-efetividade das intervenções planejadas(5).

2. Estímulo à atividade física regular: cabe aos profissionais a responsabilidade de incentivar que a atividade física faça parte do cotidiano de quem pretende ter um envelhecimento saudável(6). O professor Keneth Cooper afirmou, recentemente, que “quem não tiver tempo para realizar atividades físicas vai ter que encontrar tempo para cuidar de suas doenças”.

3. Mudanças de hábitos deletérios: não há dúvida quanto à importância da interrupção do tabagismo em qualquer idade. Os benefícios são evidentes a partir da oitava semana de abstinência, mesmo para quem fuma há seis décadas. Da mesma forma, em relação ao alcoolismo, hábito adquirido ou readquirido para compensar desajustes psíquicos e sociais. Por outro lado, tem sido demonstrado que o uso moderado de bebidas alcoólicas – em especial o vinho (de 150 a 200 ml dia) – pode ser acompanhado de menor incidência de doenças cardiovasculares e neurológicas.
 
4. Adequação nutricional: sabemos, há muito tempo – mas pouco aplicamos – que há uma necessidade nutricional para cada fase da vida e/ou condição funcional, mormente no envelhecimento. Entre pessoas de mesma idade, há uma grande gama de situações em que a alimentação deverá ser adequada, uma vez que não existe uma “dieta ideal para o idoso”. Para tal, os profissionais capacitados a atuar nesta faixa etária devem respeitar os seus valores culturais, hábitos, preferências e condição econômica.


 
5. Postergar o início das doenças: se há predisposição para o desenvolvimento de doenças crônicas, não há porque esperar passivamente a sua instalação para tratá-las depois(7). Bons exemplos são o controle da obesidade nas pessoas de maior risco para diabetes, a restrição de sal para os propensos a HAS ou a interrupção do tabagismo para os parentes de portadores de enfisema pulmonar.

6. Uso criterioso de fármacos: infelizmente, faz parte da cultura popular (e de muitos profissionais) que idosos tenham de tomar muitos medicamentos. Ao contrário, em praticamente todos os estudos de prognóstico, o número de medicamentos utilizados mostra correlação com os piores resultados. Há que ser criterioso na prescrição e na manutenção.

7. Compensar as limitações: ainda é grande o contingente de pessoas que procura o profissional de saúde para corrigir um problema já manifesto. Na maior parte das vezes são limitações já evoluídas e agravadas por complicações delas decorrentes. Mesmo assim, muito há a ser feito para que estas se tornem o menos incapacitante possível e evoluam com a mínima gravidade. Há uma gama de intervenções medicamentosas, fisioterapêuticas, nutricionais, fonoaudiológicas, psicológicas, terapêutico-ocupacionais que pode beneficiar o paciente.

8. Prevenir acidentes e traumas: esses vêm constituindo um componente cada vez maior das morbimortalidades de idosos. Há fortes evidências de que o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores e a eliminação dos obstáculos domésticos sejam eficazes no controle das quedas.
 
9. Manutenção dos papéis sociais: o envelhecimento é muitas vezes caracterizado pela perda de papéis e consequente redução da autoestima. A diversidade de atuação e a busca por novas identidades têm-se mostrado muito eficientes para a reinclusão social, favorecendo o exercício da cidadania, instrumento de máxima importância para a qualidade de vida.

10. Ampliação da rede de suporte social: mesmo quando tivermos, em um futuro próximo, a aplicação de grande parte destas medidas de promoção do envelhecimento saudável, haverá um momento em que o idoso pode tornar-se mais limitado e dependente de outrem. Nesta fase, serão de grande valia todos os laços afetivos e sociais cultivados durante a vida, pois deles decorrerão os recursos necessários para seu estado de bem-estar.

Na sua mais recente reunião sobre o tema (2002), a OMS propôs ações visando ao envelhecimento ativo, que incluem desde o cuidado da gestante, para propiciar o melhor desenvolvimento intrauterino do futuro idoso, até o estímulo para que este, nas fases mais avançadas de sua vida, possa fazer uso dos instrumentos que a sua comunidade tem a lhe oferecer(8).

Envelhecimento saudável é, pois, uma tarefa para toda a vida.


Laços afetivos e sociais cultivados durante a vida são de grande valia para o bem-estar

Bibliografia

1. Bodenheimer, T., Wagner, E. H., Grumbach, K. Improving Primary Care for Patients with Chronic Illness. Journal of the American Medical Association, v. 288:1775-9, 2002.
2. Organización Panamericana de la Salud. La salud de los ancianos: una preocupación de todos. 1992.
3. Jacob-Filho, W. Atenção Multidisciplinar ao Idoso. Geriatria em Síntese, 3(1) 98-103, 1984.
4. Lebrão, M.L & Duarte, YAO. Saúde, Bem-estar e Envelhecimento. Projeto SABE. OPAS, 2003.
5. Luk, J. K. H., Or, K. H., Woo, J. Using the Comprehensive Geriatric Assessment technique to assess elderly patients. Hong Kong Medical Journal, v. 6:93-8, 1998.
6. Jacob-Filho, W. Promoção da Saúde do Idoso: um desafio interdisciplinar in Jacob-Filho, W., Ed. Promoção da Saúde do Idoso. Editora Lemos, São Paulo, 1998.
7. Fries, J. F. Aging, natural death, and the compression of morbidity. New England Journal of Medicine, 303, 130-136, 1980.
8. Active Aging: A Policy Framework, Geneva, World Health Organization, 2002.


Este conteúdo teve 106 acessos.


CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO
CNPJ: 63.106.843/0001-97

Sede: Rua Frei Caneca, 1282
Consolação - São Paulo/SP - CEP 01307-002

CENTRAL DE ATENDIMENTO TELEFÔNICO
(11) 4349-9900 (de segunda a sexta feira, das 8h às 20h)

HORÁRIO DE EXPEDIENTE PARA PROTOCOLOS
De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h

CONTATOS

Regionais do Cremesp:

Conselhos de Medicina:


© 2001-2024 cremesp.org.br Todos os direitos reservados. Código de conduta online. 251 usuários on-line - 106
Este site é melhor visualizado em Internet Explorer 8 ou superior, Firefox 40 ou superior e Chrome 46 ou superior

O CREMESP utiliza cookies, armazenados apenas em caráter temporário, a fim de obter estatísticas para aprimorar a experiência do usuário. A navegação no site implica concordância com esse procedimento, em linha com a Política de Cookies do CREMESP. Saiba mais em nossa Política de Privacidade e Proteção de Dados.